19 de mar. de 2010

Quando o fim é o início

Não sei gente, mas acho que finalmente estou envelhecendo. E talvez o mundo esteja mudando também. Algumas coisas que pareciam tão rotineiras e banais mudaram do dia para a noite, e tudo que estava igual outrora passa a ser diferente e único.

E isso foi apenas uma festa. E isso foi apenas algumas cervejas. Não creio que tenha sido a batida de morango, de tão pequena que era a dose. Mas sim reflexo daquilo que o mundo proporciona: mais agilidade, mais velocidade.

E este prelúdio é só para mencionar que a ordem das músicas de uma festa de adolescente, que pensam serem adultos, foi alterada! Oras, e o que isso muda? Talvez tenha mudado tudo o que eu pensava sobre o mundo. Talvez só tenha percebido que Celly Campelo no inicio de uma festa agita mais que qualquer Rebolation no meio.

Mas o que isso possa representar? Creio que não será a inversão das forças entre o Bem e o Mal, muito menos a razão pela paz entre palestinos e judeus, ou protestantes e católicos na Irlanda, mas é sim algo que apresenta uma nova tendência, tão sútil que pode ser uma mera tolice da minha mente quase ensandecida entre  lógica e “ursos”.

Então vejamos: quando no inicio dos tempos Jerry Lee Lewis gritava no salão que as grandes bolas de fogo queimavam o salão e estendiam o poder aos olhares das jovens que ainda não sabiam o que era o amor e o que era a rebeldia, tínhamos um mundo tão libertário que o caminho que muitos mencionam como da violência era o caminho da paz. O mesmo caminho que os rastafáris por anos e anos pregam como a igreja católica prega a hóstia e a redenção dos pecados como a salvação. E, naquele tempo, o que a juventude realmente esperava era trocar o lado do vinil e esperar que Chubby Checker guiasse o nosso corpo a rodar como peões.

Isso era o mundo daquela época. E que perdurou por muito tempo, com algumas adições no caminho. Seja um biquíni de bolinha amarelinha, ou um grupo que trazia de fundo a discussão do homossexualismo através da caracterização do homem nas figuras mais másculas de uma sociedade que nem sabia o que era masculinidade de verdade. E nesta setlist da vida, Chuck Berry, Beatles, Erasmo e Roberto Carlos mostraram qual era o caminho.

E a nossa sociedade patriarcal, que sempre ouvia o mais velho por último, numa demonstração de respeito as vezes inútil, uma vez que a sanidade do senhor da cadeira de balanço era igual ao de um menino de 3 anos, manteve a ordem assim por um longo tempo. Durante este maldito tempo que quer brincar de 100 metros rasos todo segundo, mas amigos vieram para esta lista dizer Hello e Goodbye. Até o momento que voce abraçava alguém e cantava “do you wanna a dance”.

Pronto! O sinal que o dia clareava estava na mesa. Whisky a gogo era como um chamariz para vida que volta, para aquele que dançou como se o mundo não tivesse amanhã e que tem um compromisso inadiável com o futuro em sua casa, após as poucas notas que embalam as manhãs dos jovens que nem sabem quem foi Descartes, mas através da ciência que ele estudou tão bem, sabem que é a hora de calcular e entender a lógica que se passa no dia que já chegou.

E assim foi, mesmo com o Sertanejo que veio do Country, o Pop que veio do Rock ou com o Axé que veio do Afoxé para dizer que nem tudo deve ser levado a sério, que o mundo é uma brincadeira e que existe uma indústria que domina e mostra que aquilo que você quer ouvir é aquilo que você está ouvindo.

Acho que ai está o ponto. Hoje é diferente. A indústria se foi. Quem está ai agora não são mais as ondas da rádio. São as ondas de uma rede global, que deixou tudo mais perto. Tão mais perto que B.B King pode estar tocando para uma seleta platéia de admiradores, enquanto do outro lado da cidade uma outra se forma ouvindo canções que te fazem sorrir sentadas, esperando que o DJ de o Play na sua lista que ignora toda a existência proposta anteriormente e que mesmo com um mal signo, você inicie a dançar o dois para lá e o dois para cá, antes de mudar a velocidade do seu raciocínio.

O mundo muda nas pequenas coisas. Nós mudamos com o mundo. Mas como é duro perceber a mudança na nossa frente. Mesmo que seja apenas um Mestre de cerimônia que queria brincar de Deus, ou pelo menos brincar com as rodas da história. É pessoal, acho que estou ficando velho mesmo. Vou ouvir um pouco de Miles Davis e Mc Catra para tentar entender aonde estamos.