1 de mai. de 2009

15 anos atrás…

Sexta feira, dia 29 de abril de 1994, Rubens Barrichello perde o controle de sua Jordan na saída da chinquene de alta que trazia para reta dos boxes. O carro decola na zebra e bate na parte de cima da barreira de Pneus. Por muito pouco, o carro não ultrapassa a cerca de proteção é não é lançado para fora do traçado. A violência do impacto faz o carro capotar pelo menos uma vez. Rubens tem sorte de estar vivo até hoje. Fraturas foram constatadas, o que deixou o brasileiro bom tempo longe do mundial.

Sábado, dia 30 de abril, após mais de uma década sem mortes na Fórmula 1, Roland Ratzenberger perde a asa dianteira de sua Simtek na entrada da curva Villeneuve, em altíssima velocidade (estima-se que no momento da saída da pista, o carro estava aproximadamente 300 km/h) o impacto direto no muro de proteção seria fatal.

Estas informações para um menino de 10 anos passam rapidamente. Afinal, ele já tem idéia do que é a morte, mas não significa quase nada. Afinal de contas na mente dele o que é um austríaco morrer andando em alta velocidade em um treino de F1? Eu nem lembrava o que estava vestido no dia 30 de abril de 1994, quanto mais lembrar de um fato ocorrido com um estranho. E mesmo com acidente de Barrichello no dia anterior, eu iria ligar? Barrichello, um novato, acidentes acontecem. Os ferimentos em decorrência do acidente foram grandes, mas era uma fatalidade. E quando um acidente de tamanha proporção, até com uma morte ocorreria de novo? O garoto de 10 anos ficava no máximo preocupado, mas no fundo não se importava, pois o seu ídolo estaria na frente no GP do domingo e ele queria comemorar uma vitória dele que não tinha ocorrido naquele ano.

Domingo, dia 1 de maio. A falta de lembrança dos dias anteriores não ocorre neste dia. Acordei faltando 15 minutos para 9 horas, horário normal naquela época para acordar quando tinha uma corrida aos domingos. Estranhei o fato de meus pais estarem em casa, pois domingo de manhã era momento da tradicional missa e eles sempre estavam presente. Mas foi um dia que eles acordaram mais tarde, mas só um pouco. 9 horas já estavam todos de pé. Eu ainda esperava o café da manhã quando via imagens de uma paddock triste, de pessoas que não queriam esboçar um sopro de felicidade. Algo carregado estava. As imagens das pessoas da equipe Willians eram de preocupação, mas nem tanto quanto as imagens que vinham do piloto número 1 da equipe. O olhar dele era bastante preocupado. E o me olhar, naquele momento, era de ver uma vitória, mas sabendo que alguém de errado estava no ar. A largada acontece. O meu café chega. O dia não era muito quente, então um leite com café quente com um pão francês alimentou bem no inicio da prova. O meu café não durou muito. Aquela prova também não. Eu lembro que mostravam os lideres entrando na reta principal, quando a imagem foi para câmera do cockpit do segundo colocado, um alemão que começava uma temporada numa equipe forte. Enquanto um carro escapava na curva Tamburello. Era o líder, era o meu ídolo. Meu pai estava na sala assistindo a corrida naquele momento e viu tudo. No momento do acidente, eu lembro de chamar minha mãe, falando que ele bateu forte.

O desenrolar de tudo depois daquilo foi muito estranho. Durante o atendimento eu fiquei inquieto. Varias imagens eram transmitidas e eu relutava em ver. No momento em que o corpo, que já parecia sem vida, foi retirado do carro e o atendimento era feito na pista com aquelas imagens áreas mostrando o sangue escorrendo de sua cabeça, minha mãe já falava: “Ele não deve ter sobrevivido”. Depois daquilo, não lembro nem o que aconteceu na corrida, só ouvia as informações de o piloto sendo retirado e transportado para o Centro Medico, e rapidamente movido para o Hospital de helicóptero. Mas as vozes que ecoavam daquela velha TV já não transpareciam nenhuma esperança. E eu fiquei, só falando daquilo e perambulando sem rumo entre a casa dos meus pais e a casa dos meus avós e tios, todos vizinhos de muro. Até que no horário que deveria ser costumeiramente do almoço, eu me pego assistindo sozinho a TV quando entra um plantão da Globo. A voz era do repórter Roberto Cabrini, e a noticia que todos já sabiam foi confirmada. Naquele momento, meu domingo acabou. Fui no bar em frente de casa jogar uma ficha de Street Fighter para ver se esquecia do que houve. Engano total. Todos só comentavam disso. Até o bêbado que entrava no bar pronunciava algo que lembrava o infeliz fato da manhã. Era o nome do piloto…

Meu domingo definitivamente acabará as 9:15 da manhã, só eu que não sabia. Nos dias seguintes, homenagens foram feitas, aulas foram suspensas, lagrimas de crianças da minha idade foram vistas e testemunhadas por mim. Parecia que um ser superior havia deixado de existir. Para muitos, eu entendo agora que foi isso que aconteceu. Para mim, um grande campeão tinha deixado o nosso plano. E hoje, eu dou o devido valor para o que aconteceu nos dias anteriores, e para o que pode representar a morte de alguém em um mundo enorme.

Um comentário:

Elise disse...

Eu me lembro desse dia. Eu tinha 9 anos, e eu tbm acordava mais cedo no domingo só pra assistir a corrida. Quando o Senna bateu, meu pai do meu lado falou "Ah, não é nada, daqui a pouco ele sai do carro chutando as rodas, como ele sempre faz". Ele saiu, mas carregado. Eu olhava e dizia "Por que ele não levanta? Ele tem que levantar"... Meu pai e minha mãe olhavam pra televisão e minha mãe disse "Acho que não vai dar certo". Quando o Cabrini apareceu e disse que o Senna estava morto, parecia mentira. No dia seguinte eu entendi o que ele tinha dito. E foi muito, mas muito triste...